Crise aérea no Brasil se agrava com recuperação judicial de Azul, Gol e Latam

Mikesh Samnaeth
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A crise aérea no Brasil chegou a um ponto crítico com a recuperação judicial de Azul Gol e Latam, as três principais companhias do setor. Esses pedidos, feitos entre 2020 e 2025, escancaram a fragilidade da estrutura da aviação comercial brasileira. O cenário de colapso envolve não apenas dívidas bilionárias e dificuldades operacionais, mas também a ausência de políticas públicas eficazes para sustentar a indústria aérea nacional diante de crises econômicas globais e fatores internos como a alta carga tributária e o combustível caro.

A Azul, última entre as três a entrar com pedido de recuperação judicial, buscou proteção no Capítulo 11 da lei americana de falências em maio de 2025. Já a Latam fez o mesmo em 2020 e a Gol aderiu ao processo em janeiro de 2024. A escolha da legislação norte-americana como amparo jurídico demonstra a busca por maior segurança institucional e a possibilidade de reestruturação financeira sem paralisar operações. A recuperação judicial de Azul Gol e Latam revela que o problema não é isolado, mas sistêmico, impactando toda a malha aérea do país.

O aumento exponencial da dívida dessas empresas se deve a uma combinação de fatores internos e externos. A pandemia da covid-19 derrubou a demanda por voos e gerou um colapso nas receitas. A recuperação judicial de Azul Gol e Latam também está diretamente relacionada à alta do dólar, que elevou os custos operacionais das empresas, especialmente com leasing de aeronaves e manutenção, cujos contratos são majoritariamente dolarizados. A ausência de estímulos governamentais agrava ainda mais a situação dessas empresas.

Especialistas apontam que o Brasil não ofereceu ao setor aéreo o mesmo tipo de apoio que governos dos Estados Unidos e da Europa forneceram durante a pandemia. Enquanto empresas internacionais receberam injeções bilionárias para manter empregos e garantir serviços, por aqui a recuperação judicial de Azul Gol e Latam se tornou a única via possível para manter a estrutura funcional e evitar o colapso completo do sistema aéreo. O custo dessa falta de intervenção estatal já está sendo sentido pelos passageiros, com redução de rotas e aumento nas tarifas.

Além dos problemas financeiros imediatos, a recuperação judicial de Azul Gol e Latam escancara deficiências históricas. O Brasil tem uma das cargas tributárias mais altas do mundo para o setor aéreo, além de uma infraestrutura precária, que gera atrasos e ineficiência operacional. A ausência de um plano estratégico nacional para o setor também contribui para a instabilidade constante. O sistema de tráfego aéreo ineficiente e o custo elevado do querosene de aviação tornam inviável uma operação lucrativa em diversos trechos.

A concorrência entre as empresas, longe de estimular inovação, tornou-se um fator de desgaste. A busca constante por preços baixos, somada ao poder limitado de reajuste tarifário, impede que as companhias aéreas criem margem de lucro sustentável. A recuperação judicial de Azul Gol e Latam surge, portanto, como uma resposta desesperada a um modelo de negócios que já não se sustenta no ambiente econômico brasileiro. A pressão de fornecedores internacionais e o risco de perder aeronaves por inadimplência acentuam ainda mais a crise.

Outro ponto preocupante é o descasamento cambial que corrói os ganhos obtidos em reais, enquanto as despesas seguem dolarizadas. A recuperação judicial de Azul Gol e Latam é um retrato claro dessa discrepância, que força renegociações constantes com credores e aumenta a vulnerabilidade das companhias diante de qualquer oscilação no mercado global. Sem uma política monetária e fiscal alinhada aos interesses do setor, as companhias aéreas brasileiras continuarão presas a ciclos de crise e recuperação judicial.

Por fim, a falta de planejamento a longo prazo para o setor aéreo coloca em risco a conectividade regional do Brasil. A concentração de voos em grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro ignora a importância de desenvolver rotas alternativas e integrar regiões mais afastadas. A recuperação judicial de Azul Gol e Latam não deve ser vista como solução definitiva, mas como um alerta urgente para que se repense o modelo atual. Sem reformas estruturais, novas crises continuarão a ameaçar o transporte aéreo brasileiro.

Autor: Mikesh Samnaeth

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